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Sobre eles: Sylvia Plath

Depois de um hiatus bacana desde a minha última postagem, venho com o óleo de peroba passado na cara, falar sobre essa autora que me ganhou no seu poema Lesbos (obrigada Sophia) e depois, com The Bell Jar, conseguiu me ter pra sempre.
Antes de tudo, lembro-lhes que não sou uma leitora assídua da autora, pretendo ler o quanto puder os seus poemas, pretendo ter todas as suas obras para mim porque a sua escrita é magnífica. 

Sylvia Plath foi uma poetisa, romancista e contista nascida em Massachusetts, nos EUA, em outubro de 1932, e falecida em Londres, em fevereiro de 1963. Sylvia, desde jovem, viveu diante de turbulências e provações psicológicas. Perdeu o pai, Otto Plath, uma semana antes de completar oito anos, devido a complicações seguidas à amputação de uma das pernas, em decorrência de diabetes. Sobre o pai, ela escreveu, mais de 20 anos depois, o poema Daddy.

Casou-se com um poeta Ted Hughes, e decidiu esconder-se à sombra do marido e ajudá-lo em sua produção literária. Sua relação, inicialmente era um mar de rosas de amor intenso e visceral, porém Hughes não contente passou a trair Plath, o que gerou mais transtornos para a escritora. Os dois tiveram dois filhos, Frieda e o Nicholas que, no ano de seu suicídio tinham três e um ano de idade. 
Depois de muitas tentativas frustradas de suicídio (como quando tomou uma overdose de narcóticos e entre outras não divulgadas), Plath vedou a porta do quarto dos filhos e lhes deixou comida, abriu a janela e então tomou alguns narcóticos e deitou sua cabeça no forno com o gás ligado. Seu corpo só foi encontrado no dia seguinte pela enfermeira que havia contratado. 


As obras de Plath contam com apenas um romance que é semi-biográfico e algumas coletâneas de poemas como: The Bell Jar (A redoma de vidro), Ariel e algumas outras obras. 
Sua escrita sempre foi marcada pela exposição de seus problemas pessoais, de seus conflitos, dores e sua depressão. No seu único romance, ela retrata boa parte de sua vida desde o momento em que ganhou um concurso para fazer parte de uma revista em Nova Iorque onde lá boa parte de suas desgraças se acarretou. 

Plath é um exemplo de literata feminista, e, há uma frase sua que deixa isso marcado:  
"Eu não podia suportar a ideia de uma mulher tendo que ter uma vida casta e pura e um homem ser permitido de ter uma vida dupla, sendo uma pura e uma não."

Deixo aqui, para vocês se deliciarem o seu poema Lesbos. Indico para todos a pesquisa de seus poemas que estão por aí pela internet e que comprem suas obras publicadas (The Bell Jar infelizmente ainda se encontra esgotado em português).


 Safadeza na cozinha!
As batatas sibilam.
Isso é Hollywood, sem janelas,
A luz fluorescente oscila como uma enxaqueca terrível.
Nas portas, tiras de papel -
Cortinas de teatro, o cabelo crespo da viúva.
E eu, Amor, sou uma mentirosa patológica,
E minha filha - olhe só pra ela, de cara no assoalho,
Fantoche sem cordas, tremendo até sumir -
Como é esquizofrênica,
Sua cara corada e pálida, em pânico:
Você botou os gatos dela pra fora da janela
Numa caixa com areia
Onde podem vomitar e cagar e miar sem que ela possa ouvir.
Você diz que não suporta mais,
A putinha.
Você queimou suas válvulas como um rádio velho
Limpo de vozes e história, o ruído novo
Da estática.
Você diz que eu afogaria os gatinhos. Que fedor!
Você diz que eu afogaria minha filha.
Ela vai cortar a garganta aos dez se não pirar aos dois.
O sorriso do bebê, lesma obesa,
Nos losangos lustrados de linóleo laranja.
Você podia comê-lo. É um menino.
Você diz que seu marido não é bom pra você.
Sua mãe judia vigia seu sexo como jóia.
Você tem um bebê, eu tenho dois.
Eu bem podia me sentar numa rocha e me pentear.
Podia usar colã de tigresa e ter um affair.
A gente bem que podia se ver na outra vida, se ver no ar,
Só eu e você.

Porém há um cheiro de banha e cocô de bebê.
Estou dopada e enjoada depois do último sonífero.
Fumaça de cozinha, fumaça infernal
Nos sobrevoa, rivais venenosas,
Nossos ossos, nossos pêlos.
Te xingo de Órfã, órfã. Você esta doente.

O sol te dá úlcera, o vento, tuberculose.
Um dia você foi bonita.
Em Nova York, em Hollywood, os homens te diziam: "Acabou?
Gata, você é demais!".
Você servia, servia, servia pro papel.
E o marido brocha sai pra tomar um café.
Tento segurá-lo, não saio,
Relâmpago para um velho pára-raio,
Os banhos ácidos, um céu inteiro cheio de você.
Ele despenca da colina de plástico.
Trem desgovernado. Faíscas azuis se espalham,
Trincando como quartzo em milhões de pedacinhos.

O jóia! Ó valiosa!
Naquela noite a lua
Arrastou seu saco de sangue, animal
Doente
Por sobre as luzes do cais.
Então voltava ao crescente,
Dura, branca e ausente.
Na areia o brilho das escamas me matava de medo.
A gente as apanhava aos montes, curtindo,
Modelando-as como massa, um corpo mulato,
Grãos de seda.
Um cachorro pegou seu marido cachorro. E se mandou.

Agora estou quieta, ódio
Até o pescoço,
Grosso, grosso
Não falo nisso. Empacoto batatas como roupas finas,
Empacoto os bebês,
Empacoto os gatos doentes.
Oh, ampola de ácido,
É de amor que você esta cheia. Você sabe quem você odeia.
Ele ruge e arrasta as correntes pelo portão
Que se abre pro mar
Onde ele invade, preto e branco,
E o vomita de volta.
Você o enche com seus papos profundos, como um jarro.
Você está um trapo.

Sua voz, meu brinco,
Voa e suga, morcego que ama sangue.
Isso é isso. Aquilo é aquilo.
Você escuta atrás da porta,
Bruxa triste. "Toda mulher é uma puta.
Não consigo dialogar."

Vejo seu fino décor
Te fechando como o punho de um bebê
Ou uma anêmona, esse mar.
Meu bem, cleptomaníaco.
Ainda estou crua.
Quem sabe um dia eu vou voltar.
Você sabe pra que servem as mentiras

Nem no seu paraíso Zen a gente vai se cruzar.

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